Quando a Jornada 5×2 Começa a Falar Mais Alto: o que o Setor de Estacionamentos Pode Aprender com o Novo Movimento do Mercado
Publicado recentemente pelo Estadão (5/10/2025), o movimento de empresas como Palácio Tangará, Drogarias São Paulo e Pacheco e até mesmo a varejista H&M Brasil em adotar a escala 5×2 (cinco dias de trabalho e duas folgas semanais) reacendeu um debate silencioso, mas essencial: como equilibrar produtividade e qualidade de vida em setores que historicamente operam sob regimes intensivos de trabalho.
Segundo a reportagem, o hotel de luxo Palácio Tangará reduziu a jornada semanal de 44 para 42 horas e ampliou as folgas anuais de 65 para 104 dias, sem reduzir salários — uma medida que exigiu contratações e um investimento adicional de R$ 2 milhões anuais. A decisão, no entanto, gerou resultados intangíveis poderosos: engajamento, satisfação e fortalecimento da marca empregadora.
Fonte: O Estado de S. Paulo, 5 de outubro de 2025 – reportagem de Jayanne Rodrigues e Márcia de Chiara.
Uma reflexão necessária para o setor de estacionamentos
O setor de estacionamentos no Brasil, especialmente em grandes centros urbanos, ainda adota majoritariamente a escala 6×1, com jornadas semanais de 44 horas e raros mecanismos estruturados de compensação de folgas. É uma realidade que, embora funcional do ponto de vista operacional, tem se mostrado cada vez mais desafiadora do ponto de vista humano e de retenção de talentos.
Operadores de caixa, orientadores de tráfego, controladores e manobristas — funções essenciais à experiência do cliente — lidam com rotinas longas, postura em pé por várias horas, pouco tempo para descanso e folgas concentradas. Não raro, isso se reflete em turnover elevado, afastamentos e baixa atratividade das vagas, especialmente quando comparadas a oportunidades mais flexíveis, como as de aplicativos de mobilidade.
Estudos recentes do Cebrap (2024) apontam que o número de profissionais atuando em plataformas digitais cresceu mais de 30% desde 2022, justamente por oferecerem autonomia e flexibilidade de agenda, mesmo sem garantias trabalhistas. Essa mudança de mentalidade atinge também os setores operacionais tradicionais — e o estacionamento não está imune a essa transição.
Por que repensar a escala pode ser uma estratégia, não um custo
Adotar uma escala mais equilibrada, como a 5×2 ou versões híbridas (com revezamento de equipes e redistribuição inteligente de horários), não deve ser visto apenas sob o prisma financeiro.
É uma decisão estratégica, capaz de:
- Reduzir o turnover e os custos de reposição de mão de obra;
- Melhorar a imagem empregadora, atraindo perfis mais qualificados e engajados;
- Aumentar a satisfação dos clientes, com equipes mais descansadas e receptivas;
- Fortalecer a cultura de segurança e atenção operacional, diminuindo erros e incidentes em pista;
- Promover sustentabilidade humana, um conceito cada vez mais valorizado por contratantes e gestores de shopping centers e edifícios corporativos.
Em outras palavras, repensar a jornada não é reduzir produtividade — é modernizar o modelo de trabalho. O que o Palácio Tangará e as redes varejistas estão demonstrando é que há retorno tangível quando se investe em bem-estar real, e não apenas em benefícios de prateleira.
O futuro da escala no estacionamento
Com o amadurecimento das operações e o aumento das exigências contratuais por parte de shoppings, concessionárias e administradoras, o setor de estacionamentos tende a incorporar práticas mais inteligentes de gestão de jornada.
A transição não precisa ser imediata — mas começa pela consciência de que o equilíbrio entre performance e qualidade de vida é o novo diferencial competitivo.
Empresas que entenderem isso cedo estarão mais bem posicionadas para atrair e reter seus melhores talentos, e também para dialogar com uma nova geração de profissionais que valorizam tempo e propósito tanto quanto salário.
📘 Referências:
- Rodrigues, Jayanne; De Chiara, Márcia. “Embora não seja uma tendência, varejistas e prestadores de serviço se movimentam para atrair e manter trabalhadores com qualidade de vida.” O Estado de S. Paulo, 5 de outubro de 2025.
- Cebrap – Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (2024): Relatório sobre o crescimento do trabalho por aplicativos no Brasil.